A vida continua
quando o fim sempre volta a menino.
A morte só tem dia
quando o berço armado não é pra ser.
A vida vai sendo
quando a rosa dá cor ao meu destino.
A morte morta só o é
quando a vida se esquece de viver.
A vida em vida é sempre mais
quando o homem sabe o que é morrer.
A morte conta sempre menos
quando o homem sente e ama a vida.
A vida não acaba
quando o homem sabe o que é sonhar.
A morte nunca vem
quando o homem se fixa no Além.
A vida é uma soma
quando o homem se põe nas suas mãos.
A morte é subtracção
quando o homem não conhece os irmãos.
A vida é o princípio
quando o homem é ele até ao fim.
A morte nem é fim
quando o homem na vida adormece.
A vida continua no coval
quando o Homem o transborda de certezas.
A morte fede pelas frestas do caixão
quando os vermes devoram os nadas.
A via é o poema que se compõe
de alegrias, tristezas, sonhos, ilusões.
A morte morreu quando engoliu
o poema e os compassos da harmonia.
A vida é eterna mocidade
quando as mãos fazem hoje a Primavera.
A morte vem noutro tempo
que se conta num relógio de corda partida.
A vida é um poema de Natal
quando em cada estrela brilha um sonho.
A morte é o escuro no fundo da cova
se, a esperar, não há ontem nem amanhã.