Venho escrever um poema vermelho
de argila molhada na pena, no dever:
palavra e rosa a dizer sangue dado
por martírio plebeu - o evangelho;
escrita apócrifa no rego do arado,
na semente, na terra, no húmus da lei.
Vou chegando para escrever
como a dizer Arzila, Arzila,
o último verso do meu poema.
A tinta é o vermelho de argila
na pena aparada ao jeito do meu ser,
bico molhado no peito do dever.
A palavra é a rosa a dizer amor,
o poema é o meu sangue soado,
pouco verso num tema atamancado,
só um sonho com brilho de luar:
um Natal que por força me conduz
ao Menino Jesus da minha cruz.
A escrever, vou ficando por aqui,
que secou a argila da montanha
no meu berço em serrano amassado;
Na descrença da vida que vivi,
peço a Deus que aqui faça do Natal
o futuro para além de mim, coitado!