Este é o meu último livro, editado em Dezembro de 2005.
Aos que
na Noite de Natal
dormem sob as pontes.
*
A meu neto Bernardo,
com uma última vontade:
que me leve pela mão.
Justificação:
Com os restos de alma que minha mãe encheu de sensibilidade para o mundo e de fé para o Além, vou escrevendo as minhas contradições: pedir aos outros que façam o que a mim me não apeteceu fazer.
- “Bem prega o frei Tomás! ...» - dirá quem me lê e me conhece. Mas, nunca quis nem quero ser mentiroso!
Prefiro que me levem à conta de pecador por omissão, pedindo apenas que tenham por bem intencionado.
Reconheço que é perigosa a ousadia de escrever sobre assuntos que não domino com a profundidade exigida ou que abordo com grande dose de subjectividade. Eu pecador me confesso!
*
A reler e a reflectir o que versejei sobre NATAL EM CRISE, sinto-me pessimista perante a vida que partilho em sociedade, e isso não é bom. Sentindo-me mal neste mundo, já pensei fugir para melhores paragens, mas ... chego sempre à conclusão de que ... nem no Vaticano!
Também a mim me parece que o homem era naturalmente bom, mas que a sociedade o corrompeu. Assim ou por outro processo, é efectiva a crise do homem.
O maior “buraco” de cada crise não é medido pelos milhões que faltam num orçamento em macro; ele está no facto incontornável de que os homens, cada um ao nível da sua responsabilidade, já não são capazes de parar nos deslizes da sua auto-suficiência; já não conseguem arranjar tempo para a actividade do pensamento; já dispensam quaisquer outras leituras e ironizam toda a referência a sentimentos e valores, sem repararem que toda esta actividade psíquica faz a diferença entre os animais racionais dos outros.
*
O importante é ser capaz de comunicar nos dois sentidos, que é como quem diz: de homem para homem, entre ti e o outro, entre mim e ti, entre mim e o outro, entre nós connosco.
Sinto grande necessidade de comunicar com alguém, e esta foi a forma de dizer, em versos salpicados de um romântico “estilo” que me domina, uma leitura personalizada do realismo humano, individualmente e em sociedade.
*
O Natal continua a ser uma referência a valores, um programa de bondade para a paz que se anunciou aos homens de boa vontade.
Nos meus versos negros, apeteceram-me as lágrimas, mas quis dizer, com eles, que o ideal é possível e pode existir. Coisas de igreja? O pecado social é dos homens, com ou sem religião, com ou sem Natal!
Filipe Antunes dos Santos
Beija na boca, beija mais e mais
a pobre apaixonada em mulher.
Nua para a entrega diz-se em “ais”
inda aquém do orgasmo - bem-me-quer.
Por amor, beija a boca apaixonada,
toda em fogo de homem que desejas,
a raiz do amor é refrescada
com os beijos em rubro de cerejas.
Se a paixão cria ondas como o mar,
a nortada faz ondas com espuma;
se, na boca, os beijos vão queimar,
o amor põe na praia a fresca bruma.
Maré baixa, não põe no ventre o fogo!
Maré alta, ... se a boca der Amor.
Beijos de ontem? De hoje? Os de um jogo
no ferrão da abelha que ama a flor.
Beija a boca por dentro da paixão!
Faz amor, como o tempo e a semente!
Faz o mundo no fogo da explosão
que, na vida, é a vida que se sente!
Beija forte, no calor da convicção,
o que amas e crês - a tua vida.
Ser na boca ou na face apetecida, ...
é Natal que te sai do coração!
Coimbra, 20/21.11.02
Perguntei agora ao sol
que se acende no farol
se inda há água no mar.
Disse: «Sim! Mas, ... atenção!
Se tardar a decisão,
a secura vai matar.»
Perguntei agora ao vento
que sacode o pensamento
se no mar havia sal.
Disse: «Sim! Neste momento,
só não tem cento por cento
porque falta Portugal».
Perguntei à praia-areia
onde a vaga se recreia
se não guarda na memória
os receios do Restelo.
Disse: «Sim! Mas, ... um tal zelo
foi vencido pela história.»
Perguntei agora ao Povo,
entre o velho e o mundo novo,
se, nas naus que fez ao mar,
algum dia faltou braço.
«Não! Na mão sempre houve espaço
pra ser onda a empurrar!»
Nesta noite de Natal
sobre a noite - Portugal,
o Jesus sempre nos diz:
Não há paz, falta o amor;
não há pão, a fome é dor, ...
Sou Menino infeliz!
Fazer Natal é fazer amor a dois,
Amor em Verbo, mas depois
de conjugado no tempo certo!
Alma quente e lareira em refractário,
é chispa que acende em pederneira,
as estrelas em forma e brilho de pão.
Mas é pobre contraste na razão,
de um falo e de um dedo traçados,
um cheque gordo para pagar
os Natais adiados.
Fazer Natal é fazer amor a dois,
Amor em Verbo, mas depois
de se estar no tempo conjugado!
Um gueto na fartura das crianças
com fome,
cinco estrelas de céu por cama,
rua estreita acordada e sem sono,
um auto em top e um doente
sem hospital,
a cocaína da morte lenta
na seringa da execução,
a noite nos olhos e o crime
na estrada!
Fazer Natal é fazer amor a dois,
amor em Verbo nunca depois!
Não sei.
Como posso saber?
Cabeçudo não é rã,
homem não é rei,
estrume não é pão, ...
Tudo é a ser
Encarnação.
Não sei.
Como poderia saber?
O ontem não é o hoje,
O belo não é a última versão.
Nada é antes de ser
Encarnação.
Embora em boa hora o dia seja
quando o Homem acende a aurora
e o tempo velho se fecha na igreja,
desafio a deus por Zeus, por Alá
que me nasça cada tempo num sinal
do coração que seja o do Natal.
num estágio dos ismos – dia, hora, ...
apenas o destino de quem comigo chora,
o tempo novo em velho e em igreja
põe-nos fora do jogo em que a mentira
quer nascer cada tempo, ser sinal
sem matriz, sem vislumbres de Natal.
Embora, em boa hora, a manhã seja
claridade só no sonho da aurora,
abra-se em prefácio, (noves fora
eu e quem, adiado, não esteja
com as mãos a fazer já o mundo melhor)
o tempo novo. Não se diga que esse sinal
é matriz velha se o coração é o Natal!
Venho escrever um poema vermelho
de argila molhada na pena, no dever:
palavra e rosa a dizer sangue dado
por martírio plebeu - o evangelho;
escrita apócrifa no rego do arado,
na semente, na terra, no húmus da lei.
Vou chegando para escrever
como a dizer Arzila, Arzila,
o último verso do meu poema.
A tinta é o vermelho de argila
na pena aparada ao jeito do meu ser,
bico molhado no peito do dever.
A palavra é a rosa a dizer amor,
o poema é o meu sangue soado,
pouco verso num tema atamancado,
só um sonho com brilho de luar:
um Natal que por força me conduz
ao Menino Jesus da minha cruz.
A escrever, vou ficando por aqui,
que secou a argila da montanha
no meu berço em serrano amassado;
Na descrença da vida que vivi,
peço a Deus que aqui faça do Natal
o futuro para além de mim, coitado!
Espero que o carvalho seja isso:
a cabra com o corno no toutiço,
o varrasco em repasto de bolota,
os currais com soalho em folha seca
na mudança de mantas e lençóis.
Não espero bugalhos em castelo
nem bolota no enchido do chouriço!
Espero, sim, do carvalho em novidade,
uma sombra e o fresco de uma fonte
sem sarugas no uso - propriedade,
sem borbotos na lã que me aquece.
Esperar? Todo o tempo, se eu fizer
um presépio sem burro, só reis magos
que de Herodes percebam a intenção
- o malvado com medo do Menino,
e percorram os três outro caminho,
o outro sem traçado de asinino,
que há-de ser para passar a Redenção.
A esperança que canto no Casal
com os anjos do mundo acordado,
vai num verso – poema que, afinal,
me sacode, me relança o eu tardado
pra fazer obra-prima com sinal
de outra vida – metáfora de um fado
que, aqui, me anuncie a construir
dando as mãos ao Menino do Natal.
A vida continua
quando o fim sempre volta a menino.
A morte só tem dia
quando o berço armado não é pra ser.
A vida vai sendo
quando a rosa dá cor ao meu destino.
A morte morta só o é
quando a vida se esquece de viver.
A vida em vida é sempre mais
quando o homem sabe o que é morrer.
A morte conta sempre menos
quando o homem sente e ama a vida.
A vida não acaba
quando o homem sabe o que é sonhar.
A morte nunca vem
quando o homem se fixa no Além.
A vida é uma soma
quando o homem se põe nas suas mãos.
A morte é subtracção
quando o homem não conhece os irmãos.
A vida é o princípio
quando o homem é ele até ao fim.
A morte nem é fim
quando o homem na vida adormece.
A vida continua no coval
quando o Homem o transborda de certezas.
A morte fede pelas frestas do caixão
quando os vermes devoram os nadas.
A via é o poema que se compõe
de alegrias, tristezas, sonhos, ilusões.
A morte morreu quando engoliu
o poema e os compassos da harmonia.
A vida é eterna mocidade
quando as mãos fazem hoje a Primavera.
A morte vem noutro tempo
que se conta num relógio de corda partida.
A vida é um poema de Natal
quando em cada estrela brilha um sonho.
A morte é o escuro no fundo da cova
se, a esperar, não há ontem nem amanhã.
Do que ouvi e ainda guardo
no sacrário monumenta,
lembro a ironia do anjo mau
a dizer verborreia em calhau,
a pregar o conto do vigário,
a lavar o pecado em água benta.
Do que ouvi, tudo cabe no diário
de Repúblico lacrau a morder
o tendão do velho Aquiles - calcanhar
deputado em novo prontuário,
oposto programado em maldizer,
situado a servir a oposição!
Do que ouço em tevê fica escrito:
parlamento em versos de vento,
a pobreza da triste figura.
Podem vir, ao mês, ao dia, mais Natais,
que a mudança não mudará os sinais
do que é dito em Parlamento.
Parlamentos? A ninguém fica o direito
de trocar eleições - democracia
por moeda em quilate pantomina,
vergonhas, traições ... tudo a eito!
A rimar a nudez de um País em fantasia
deputada pela nação - representante,
sé é eleita, nas promessas da mentira,
é desgraça do Povo expectante,
e o Natal para o Povo assim se adia!
O Natal traz roupagens de mistério
porque, em praça, mal mostra o segredo,
à criança só mostra o brinquedo;
ao velhinho lhe esconde o cemitério.
O Natal é no mundo o sacro império,
cada mundo na alma contra o medo;
cada homem de pé feito penedo;
cada credo na fé de um Homem sério.
Ao contrário, as Noites de Natal
são o frio, são neve, ... são geada,
são, algumas, o homem carnaval.
Mesmo assim, a neblina em alvorada,
se é pecado sem alma não por mal,
é a vida na humana Consoada!
Coimbra, Novembro de 2005
Televisão Brother Big - a profana,
meteu-se em minha casa a rezar
pias mentiras - setenta vezes sete,
missa est seis dias por semana,
que o domingo já é da Internet(e)
e o Ministro em bago da triste figura,
por um soldo a mandar-me trabalhar!
O domingo, em manta de retalhos,
ficou cheio de bigues e teresonas
prostitutos guilhermes a rezar,
a benzer o sexo com pó nos olhos
e o sadismo das vergonhas por belezas
miseráveis confessas a setenta vezes,
eu a ter pena e a ter que perdoar.
Sete vezes setenta e a big entrou sem licença.
Outras tantas eu lhe disse muito a sério:
- Desaparece! Quem te deu a confiança
pra gritares, do sexo em lua tirando a voz?
Sei que há muita gente a abrir a porta
para uns tempos de masturbação,
mas, aqui, em minha casa, não!.
Em missa de vernáculo Brother Big,
O Brother é que poderá ser cristão
quando a Noite for de Natal
no encontro com o irmão.
Abrirei as portas de par em par
a quem nos media vier por bem
e no silêncio de ouro para ouvir
a mensagem proclamada em Belém.
se o Natal chegaria ao altar
pra se dar em comunhão.
Por meu mal,
baralhei os conceitos:
as virtudes são defeitos,
como eu sou a ilusão.
Era eu na rua, ao meio-dia,
a esconder, do que fazia,
o pecado original
a que chamam capital.
Do Natal que venho a ler
numa bíblia já truncada,
vi que a noite ficou fechada.
Mas, ... se eu for acto de fé
num Menino já de pé
na Pelmá em que nasci,
o Natal será criança
com prendinhas de mudança
que se sonham por ali.
Vejo a fé onde a razão
interroga a Redenção
que se diz vir no Natal.
No meu crer, a paz é guerra
na cultura desta Terra,
na Pelmá - berço real!
Se o capital, em fogo cego,
não mentisse à natureza,
mostraria o fumo em espiral
de tudo o que ardeu; veria,
com a lente no cu de merda
o monstro fatal do dia,
o vampiro a sugar a presa,
o judas dois mil e tantos
em figura de animal,
a quadrúpede posição
em fogo posto que, afinal,
é roupagem porca,
de chafurdo,
de homem monstro,
desnaturado,
de um borrifo de mijo
mal cheiroso,
ensanguentado.
Será que o monstro horrendo
irá sair à rua pelo Natal?
Permita Deus que não,
se não for perdoado!
O que o fogo lambeu
no vestido virginal
da verdura e das frescas fontes!
O meu e o dos montes
transformado em ritual
que ofendeu o Natal!
Ateador de rastilhos,
é porco montês,
mais porco que o javali;
é a mão do diabo na função
(vendida?) de fogueiro aqui;
é o escarro podre, a corrupção
desta meia sociedade;
é o peido mal cheiroso
quando assim, só cu, se bufa.
Os cotos de vela foram as fezes
com que acendeu o crime
no matagal mirrado
por tudo em pouco;
foram o pecado nas matas
já poucas em pulmão;
foram a gorja adiantada para fazer
o acendalho da missão.
O acto soez de quem se vendeu
fê-lo bosta de boi em soltura,
esguicho de merda em diarreia;
o seu verbo aporcalhado em pessoa
na gramática do grunhir, ...
foi a triste figura em vinha d’alhos!
A mangueira deu sinal de alarme
e ... não ardeu a cultura do passal,
mas ardeu, no quintal,
a madeira que, afinal,
só tem por fado
ser caixão para a minha Gente!.
A hipérbole que se lê na chama
- a metáfora do diabo - foi escrita
contra o quintal do Zé,
contra o casebre da Coaitada,
contra a figueira de Zebedeu,
contra a riqueza do nada,
contra a tarde que não quis a manhã
contra um destino em talismã.
As metáforas que o fogo lambeu
em hipérbole do terceiro mundo,
tudo em veste rosa laranja
num contrato nupcial,
tudo é muito mais se, no final
se crê que é tempo de Natal!
Se não me engano,
tudo é fogo no arraial;
toda a noite se acende
vermelha – horrendo belo.
Todo o céu arde que arde, ...
tudo se perde!
Fogo troqueu,
pé de Dante,
verso infernal,
ditirambos pés do mal,
trabalhado em camafeu,
tudo normal.
Fogo posto no Casal,
fogo em fogo se acendeu
no escampado de breu
- imagem digital de que nasceu
o conceito em hebreu
- a bíblia do Natal,
fogo posto no pinhal.
O fogo da “Noite Feliz”
não aquecerá o mundo
se o rastilho não for eu!
nas asas da liberdade
pra sentir tempos de Abril:
vinte e cinco, nova aragem
de outro sol,
outra paisagem,
para o Povo sonhos mil.
Escrevi-me liberdade
a rimar com a cidade
neste Povo em Abril:
aleluias, tons pascais,
ondas quentes dos trigais, ...
um poema pastoril!
Escutei-me na razão
e mordi tempos passados,
recompus, na “Portuguesa”,
novos ritmos ensaiados,
- os da minha revolução:
vi um cravo em cada mão
das crianças em Abril
com Natal feito na hora
do presépio que for Povo.
Eram tantos os pregões!
Eram mais os corações,
num só peito - alma febril!
Escutei tons que trazia,
tons de mim em sinfonia
p’ra cantar o nosso Abril
nascido à revelia da situação
numa Noite Feliz!
os cravos desenhados
com traços do meu perfil!
Numa tela em naif
- os pequeninos,
o presépio com montes povoados,
os vales que eram do tempo
- a minha idade -,
este tempo desde Abril.
A pensar-me Professor,
quis ser livre, ser senhor
ler-me cravo, ser Abril;
quis ser arma em defesa
do futuro, pôr na mesa
a frescura do cantil.
Vi caminhos de criança
alinhados na esperança
de uma escola a ser Abril,
uma escola com futuro
a saltar além do muro
num jardim primaveril.
Se chorei, foi por ter pena
de ser verbo em cantilena,
nado-morto antes de Abril.
Como em Dia de Natal,
a mensagem cardial
apertava no funil.
Não há escola para ninguém,
ou talvez sim,
se eu sair “armadelhado”
e entrar no ministério.
interrogado que fervia por Ti.
Naquele instante,
abriste o ventre,
que só assim se quer ser
mãe!
O sim que honrou o meu desejo,
disse-o eu também:
- Sim, meu Amor, por vontade
fecundado,
fui o pai do teu orgasmo
determinante.
Foi então um ventre prenhe,
... a tua maternidade!
E eras tu também
a minha paternidade,
Mãe!
Fui criador em ti, com Deus a ajudar!
De mim, no teu ventre iria transbordar
a raça do mundo novo,
nova gente paraa ser Povo
maternidade,
Primavera,
mundo aberto,
como a flor do teu fruto,
Mãe!
Sempre a ter-te, Mãe,
ensina-me a ser o Natal!
Em verso maior!
Apanhei-o no ar
nessa tarde chuvosa
que me fez meditar!
Numa carta vinham desenhados
dois olhitos molhados!
No perfume de uma flor
que era rosa - um jardim -,
dois olhitos molhados
diziam assim:
Papá,eu estou bem!
E a Mamã também!
Estão bem a Fabi,
a Teresa e o cão!
(Também ele anda triste
desde que saíste,
de olhos no chão.)
Dois olhitos molhados,
eram gotas da dor
que sente o amor
a chamar por mim:
- Papá, vem depressa!
Não há sol no Casal!
Um poema, Senhor,
em verso maior!
Um poema e uma rosa
que se apanham no ar
numa tarde chuvosa. ...
são pra meditar!
- Lá estarei pelo Natal.
sem luz nem chama interior,
homens de eleição
à volta de (uma) mesa
vinham propor
ao clero e à nobreza
nova concordata:
mais privilégios,
repartição “pro rata”
no desgaste das promessas.
Homens agradecidos
à volta do altar
na capela do solar
serviam ao prior,
ao converso e ao senhor,
a cozinhada ementa
na hora do oitavo sacramento.
Os donos escolhidos
dos destinos aferidos
na hora da eleição,
cunhavam moeda de latão
pra saldar a velha amortização
no referendo popular.
Os corpos foram à missa,
deixaram a esmola na bandeja
como se fossem igreja
e mandassem no Natal.
A loucura sem imposto
continua a ter um rosto:
o comprador das horas
que quer comprar o mundo!
Nancy, Dezembro de 1988
são flores, jardins risonhos
que se recriam em ninho.
O meu beirado lhes dá
a Primavera para já
no mosto que fará vinho.
Longas horas a voar
no sentido do altar em aliança, ...
andorinha é sacramento
quando bebe do calor
que recria o seu amor
em argila seca ao vento.
Sempre, em cada Primavera,
os beirados - a quimera
são poemas - conversão
com a rima que, afinal,
tem o alento de um casal
que se leia coração.
Casal das Sousas, 05/08/2005
Fiz anos e foi bem feito
que Deus me tenha estendido a corda
e me tenha dado mais um empurrão!
É bem feito ficar mais tempo
a saborear
os amigos que o são!
É bem feito ainda estar
com tanto para fazer
na rua social,
rio estreito que transborda
omissões, ironias,
não estou para isto,
deixa correr;
“vai ver se chove”
na eira,
que o sol rega o nabal.
É bem feito gastar mais corda,
que por Deus tudo é bem feito!
Tudo é ser no verbo estar!
Tudo é mão em substantivo!
Tudo é grau no adjectivo!
Tudo é vento a soprar!
É bem feito que, por Deus,
ainda tenha ocasião
de fazer o bom ladrão
à direita da Consoada
pra ser. - Cantam os Anjos!
Eis a estrela no Natal!
Minha Mãe Maria de todo o céu,
mãe Maria de família, nome Rosa,
sois as Virgens irmãs na intenção
de gerardes a vida, o mesmo Amor.
cada uma o seu filho sem labéu!
Maria, minha Mãe de todo o céu,
se do ventre tiraste o meu Natal,
dá-me a graça, ou sequer a ilusão,
de que eu ponha na vida uma promessa:
o Jesus que comigo vence o mal.
Maria de família, nome Rosa,
se em botão engendraste a minha vida,
se me deste o teu mundo a esperar,
se tu mesma no sapato te puseste, ...
é contigo que eu faço este Natal.
Duas Mães! Duas Virgens na missão!
Nesta gruta de Belém - o meu Casal,
sou Menino do mundo na intenção:
ser burrinho, vaquinha; ser cordeiro, ...
ser o Homem da nova geração.
mas, na missa em Latim,
como quando era criança,
não se lia quase nada,
e, com toda a pequenada,
se esperava pela mudança. Mas, ...
Quem não sabia Latim,
continuava sempre assim.
Ouvir missa até ao fim!
A seguir virá por mim
a alegria do Natal:
um beijo para o Menino,
eu humano, ele divino,
um sorriso - o meu sinal!
Ouvir missa de Natal,
terá o missa est no final
de uma noite em Latim?
No presépio do ensejo
o Menino é quem eu beijo
como a Mãe me beija a mim.
Missa est, é ter, depois,
o encontro entre dois
a beijar o Pé-Menino;
é mostrar-se, é pôr no rosto
a verdade que, a meu gosto, ...
é quem for mais pequenino.
Era uma vez
um ferrolho e um jornal,
poesia, ... nem vê-la!
Oposição pessoal;
cravo e canela
Gabriela.
Não se antevia o Natal!
Era uma vez
a pena e a mordaça,
serrania e compaixão,
o santo e a fogaça,
propriedade e maldição,
um vira-cantochão
para a noite de Natal.
Era outra vez
o tempo do ferrolho na hora,
nas notícias do jornal:
ardia, fechada,
uma opinião sem sinal,
parcelamento de nada,
em Natal sem Consoada.
Era, desta vez,
um cravo e uma lapela
um peito e um cão de guarda
uma herdade e os donos dela,
a lareira atiçada.!
É agora que, afinal,
o céu mostra a estrela do Natal!
Tudo o que eu disse não o dou por dito,
que o mal dito por tudo e por nada,
vai ficando dito em conversa(a)fiada
- pouca-terra, muita-palha e um apito
de comboio - serrania maltratada
no verbo em pessoa, eu versus mito.
Mesmo ao lado, Vieira é padre jesuíta
bem sabido nas figuras do estilo,
as metáforas - seios de madrasta,
padres novos em homem que só grita
quando prega o mundo em Dom Camilo
condenando o Pepone que contrasta.
Tudo o que não digo não dou por dito,
que uma parte, se é o todo apurado,
é parcela na dobra do “manguito”;
que o singular só é estilo no plural
quando corta, nos artigos de jornal,
as figuras de um Natal atraiçoado.
Vem aí o Pai Natal
em Ministro das Finanças
que não gosta de crianças.
Em viagem TêGêVê,
não traz saco e diz porquê
na leitura de Bruxelas:
o “buraco orçamental”
põe a noite no Natal
com mensagens amarelas.
Na burjaca das promessas,
muita coisa a pedir meças,
vai inchando o sapatinho:
para a Ota os aviões,
pró casino os milhões;
de reformas, ... “um cheirinho”.
Ironia do Natal?
O Menino, afinal,
é Jesus e “uma cabana”!
pra nascer em TêGêVê, ...
Natal hoje? Mas ... com quê,
se não há ninguém que dê
as valias exploradas?
Pão em poucos faz mendigos,
na mentira são de amigos
os barrigas anafadas!
Quando olho, não vejo esse Natal
que na paz faz a guerra pelo bem.
Pela paz, o Menino de Belém
deu ao Homem a espada contra o mal.
Quando olho, não sei se, afinal,
sou a espada em guerra por alguém
ou, na paz, não me penso em Belém,
e assim fico mais burro que o curral.
Meu Menino, se és Deus, põe do avesso
minhas mãos, dá-lhe a graça da abertura
pra que brandam, como arma de arremesso
todo o bem pela paz que se procura,
uma obra que eu faça pelo preço
de um Natal para todos por ventura!
Sete notas em tons e semitons
arrimados em escada musical,
combinaram comigo em desigual,
intervalos sentidos – novos sons.
Alma cheia de ritmos – os meus dons,
a canção que me canta é, por meu mal,
portamento em queda vertical
neste chão musicado em tempos bons.
Descobri que está cheio o bandolim
de infinitos cantares – melodia
que eu souber acordar dentro de mim!
Tem lá todos os hinos à alegria!
Ouço nele alvoradas em clarim!
Tiro dele o Natal que me recria!
Horas mortas que eu deixe amortalhar
sobre o peito fechado em sepultura,
são as noites cercadas em moldura
sem esperança de um ser a recriar.
Horas mortas que eu faça por ganhar
quando a alma se abre pra leitura,
são as flores nascidas da secura
nos meus tempos de verde a remoçar.
Horas mortas? São tantas que nem sei
se fui eu que no tempo feneci;
que não sei o que escreve em mim a lei.
Horas vivas? Natal, é vida aqui?
Tempo novo na voz de toda a grei
é cantar, com os anjos, ao “Rabi”!
Eureka! Encontrei!
Era um Menino – o novo Rei
com nome de cada criança
que não teve brinquedos
nem um beijo,
nada no chinelo do desejo;
com o nome de cada pobre
sem abrigo, sem pão sem nada,
marginal que rimava com Natal;
com o nome de cada velhinho
sem lar nem amor nem pão
sem a alegria que o Natal cobre;
com o nome de cada recluso
a saborear a razão daquelas grades
e a esperança de ouvir: «Vai em paz!»;
com o nome de cada soldado
para que se renda à paz contra a guerra,
já hoje, Dia de Natal;
com o nome deste e daquele,
dos bons e dos maus por fraqueza,
dos filhos da puta da exploração,
dos patrões da porta fechada,
dos operários despedidos por nada,
dos, e dos, e dos outros mais
que não quiseram merecer,
e não tiveram
o Menino de Lei
a que chamam o Natal!
Vim fazer uma alma de alecrim
nos meus olhos – verdura natural.
Vim com fé à Senhora do olival,
na capela do Povo de que vim.
Serra em frente – a Serra do bom fim,
as manhãs trazem sonhos de Natal,
novas vistas de céu no meu quintal,
alma nova em perfume de jasmim.
Quero olhar! Quero ver-me nos “Autores
do Concelho” - meus verbos feitos lume
com a Gente do alecrim dos meus amores!
Pra regar a secura de um perfume,
o Natal vai à feira dos amores!
Alecrim numa história? O costume!
É aqui, meu Menino, que te espero
à lareira do fogo, mas do Amor,
que de Ti vou sentir esse calor
este Natal, se por Ti for o que quero.
É aqui, meu Jesus, que reitero
a vontade de amar seja a quem for,
como Tu a sofrer a dor na dor
do Natal, pois, sem Ti, já desespero.
Meu Jesus, vê lá bem se o homem pára,
que é vergonha ser homem, mas não ser
construtor desse Homem que na cara
mostra Deus nesse Homem a valer
o Natal - esperança já tão rara
que só resta, Jesus, eu renascer!
Ansião, 20.12.2003
Dos Natais que vivi só menos um,
é do um que tu podes mais falar!
Foi Natal de Abril - Cafarnaum,
abrilada de Amor - o meu amar.
Obrigado! Obrigado! Mais nenhum,
retardado que eu fui no tempo amor!
Só depois de ser jovem, ser jejum,
fiz, em ti o jardim da minha flor.
Se é verdade que o homem era eu
nesse Abril, talvez Maio já Verão,
tive amor nos teus poros e valeu
o que somos: dois num coração.
desse amor que se fez ocasião,
(menos cama na cama) não perdeu
do teu sexo, a entrega e a razão.
Dois num só, o orgasmo nos venceu
para a vida na nossa projecção:
as três rosas de ti em gineceu
que o Natal nos quis dar em comunhão!
Ansião, 25.12.2002
Ó vida minha gloriosa!
Natal, é a honra de minha Mãe!
Mas também a honra de meu Pai
o puro Amor em Família
celebrado à lareira em Natal!
Aqui ao lado, ...
ainda não!
Houve Natal porque eu nasci
pobre, desconhecido,
mas aquecido, honrado
como o Menino Jesus
numas palhinha deitado,
criação de Deus aqui ao lado!
Aqui ao lado, ...
ainda não!
Se houve crianças louras que não nasceram,
cada uma, a ser flor que não abriu,
cada uma, um rosto que não sorriu,
cada uma, apenas isto e aquilo, ...
pra que querem elas o Natal?
Aqui ao lado?
Poderá ser!
Na fé natural eu creio!
Valerá a pena esperar
o direito de ter Natal!
Amanhã vai ser Natal,
mas eu disse não à Ciganita
em negócio de pensos
para a consoada no pinhal.
Vai ser Natal outra vez,
mas eu neguei um olha à Mãe Solteira
em negócio de direitos
sobre o que o Amor nela fez.
É Natal! Tudo tem mais luz!
Mas ... não fui ao hospital
em missão nova de esperança
a visitar o João - o meu Jesus!
É Natal! Voam mensagens!
Mas ... eu disse não ao marginal,
evitei-o, olhei-o de lado
em negócio de falsas miragens!
Eu hei-de me ir ao ... Natal,
com os cinco sentidos na mão,
desejando “White Christmas”
ao senhor do capital!
Missa do galo é Natal,
é a ceia consoada
à mesa da comunhão
das mensagens com sinal!
O Natal não é um dia!
Redenção, é cada hora!
Gloria in excelsis Deo,
com amor, paz e alegria!
Andei na escola a aprender
o que está dentro do ser
entre o ser e o existir.
Ser Menino, só se aprende
quando, a estar, o ser transcende
qualquer mão a existir.
Qualquer mão a existir
como o vento a sacudir.
cada idade que me tem.
No presente do futuro,
não me sentirei seguro
se, a existir, for um ninguém.
Se, a existir, for um ninguém,
o amanhã será também
o Natal da noite em dia,
sem a estrela do Oriente
a caminho do Ocidente, ...
os Reis Magos sem magia.
Os Reis Magos sem magia?
O presépio é alegria
com os anjos a cantar!
Se no ser me souber ler
em manhã, sol a nascer,
no existir vou consoar.
Vou deitar o meu pião
e rodá-lo sobre a mão
que lhe der jeito e baraça;
hei-de lançá-lo com força
que a ferreta lhe torça
pra sair fora da praça.
Hei-de jogar o pião
que se ajeite a uma lição
no pátio de cada escola.
Será fácil aprender
brincadeiras, como a ler
um pião e uma sacola.
Hei-de apontar o pião
aos que dormem neste chão
olvidando a “ferretada”.
Pra que seja aqui Natal,
ninguém durma no Casal
na noite da Consoada.
Hei-de fazer um pião
que não durma no meu chão,
que não fique onde parar.
Contra o jeito da jogada
pra levar outra bicada,...
seja lesto a escapar.
Hei-de pôr o meu pião
a soltar-se desta mão
num espaço alargado,
já pra lá deste meu braço
que se orgulha do que faço
quando firmo o meu arado.
Quero dar o meu pião
e, com ele, a minha mão
a quem for mais pequenino.
O Natal é das crianças
com o tempo em suas tranças
e o futuro a ser Menino.
Hei-de dar ao Deus Jesus
um pião com uma cruz
a rodar a Salvação:
um pião em que a baraça
seja a força, seja a graça
de um Natal em cada mão.
Hei-de levar o pião
com promessas pela mão
ao presépio do Natal.
O pião é a criança,
esse jogo da esperança
em Belém feito sinal.
Maria, minha Mãe de todo o céu!
Mãe Maria, de família nome Rosa!
Sois Virgens irmãs na intenção
de serdes Mães do mesmo Amor
cada uma no seu parto sem labéu!
Maria, minha Mãe de todo o céu,
se do ventre tiraste o meu Natal,
dá-me a graça, ou sequer a ilusão,
de que eu ponha na vontade
um Jesus igual ao teu, mas bem igual.
Maria, de família nome Rosa,
se em botão engendraste a minha vida,
se me deste o mundo a esperar,
se tu mesma no sapato te puseste,
é contigo que eu passo este Natal.
Duas Mães! Duas Virgens na missão!
Nesta gruta de Belém - o meu Casal,
sou Menino do mundo em bem e mal,
sou burrinho, vaquinha ou cordeiro
e, depois, o Homem da Tua criação.
Quem se deita sem ceia,
... vai ter noite e meia
de tempo
com vento
numa noite a convidar
para as sombras do luar.
A mão da noite escura
anda sempre à procura!
É a noite que tem fome
ou o dia que não come?
A noite é
o crime de pé,
que a noite acordada,
é fome atrasada
que tem o dever
de também comer.
Se a noite sobrar, ....
é o pão a faltar
na mesa da fome escura
que anda à procura.
Ceia na mesa de toda a gente, ...
é a noite defesa para toda a Gente!
Se a noite for de fome, ...
se o dia for ladrão, ...
o Natal não é cristão!
Nancy, Dezembro de 1987
Meia-noite
e o Natal nem chegou!
Alguns dizem que sim,
outros que não,
meio mundo se diz talvez,
e as crianças da fome
falam d’Ele
como a sonhar
que o Natal é seu.
Certo, certo,
na meia-noite do presépio,
é a dor daquela Mãe
que o Espírito da vida assombrou
nas entranhas e na alma
para que houvesse Natal,
pra que fosse ocasião
com o pão nas pegadas da neve,
com amor às crianças cada dia,
sempre na festa da alegria
no jardim da Celeste,
Gir’ó flé, guir’óflé-flá!
Afinal,
ainda outra vez
não se fez o Natal.
Noite Santa?
Noite de Amor?
Só quando eu for!
Dezembro vinte e quatro, ...
Dezembro vinte e seis, ...
espaço e tempo a correr no rio
entre os pilares e o peso
da ponte das mentiras consumidas,
arcos abatidos em fogo-preso:
estrelas-bobos-magos-reis.
Entre vinte e quatro e vinte e seis,
a ponte é de natal pronta a vestir:
meninos de Jesus esfomeados,
guerreiros sem tréguas, contratados,
políticas metralhas em nome da liberdade,
mãos-cheias de crime sem vergonha,
hotéis de estrelas - bancos de jardim,
boas-festas com perfume de cidade,
obras da noite – aleluias de sangue,
crimes na mesa dos senhores do bom fim,...
mote branco num salmo penitencial
com vésperas e oitava longe do Natal.
Dezembro, vinte e cinco de cada ano ...
e a vida continua – sorte desigual:
promessas velhas – negaças de Natal,
mentiras bentas - verbo profano,
missa do galo sem missa nem comunhão,
sem o Deus Menino do Amor, da Paz, do Pão.
Sempre assim? Se eu quiser, ... não e não!
O Natal já prometeu
vir de dia, sem barbas nem arminho;
vir de dia com o Menino,
da Virgem semente que se deu
às entranhas da terra com sol
como em quente ninho!
que se abriu em vida por Amor
na minha Mãe - minha Rosa
num jardim natural em parto e dor,
mas no dia que o céu fez!
O Natal, ...
Vai vir de dia, todo em sol,
que da luz nasce a verdade,
que o calor choca o ovo e tira dele
esse Amor de Deus feito Menino.
O Natal, ...
De dia, Senhores! Hoje mesmo!
Ou quando for a ocasião!
O Natal?
Bem de dia, Senhores!
Há herodes que secam as crianças!
Há mãos sujas no zebre dos milhões!
Há semáforos vermelhos sem sinal!
Há cabelos de ouro que não fazem tranças
porque a noite esconde as decisões!
- As crianças? Porquê, grande Senhor?
Não te fazem rei bolo no Natal?
- Africano Jesus, por que não comes?
- E as crianças da lata marginal,
mesmo ao lado do golf, do casino,
da vivenda do Banco Portugal?
- E os meninos maiores condenados
à seringa nas veias do Natal?
- E as crianças já mães em corpo enxutas?
Brinde ou fava? ... engelhas na verdura
que o varrasco do viço abocanhou,
e que, ... por aí, ... à vista de todos,
ou talvez não,
vão vivendo o Natal de prostitutas!
- E as crianças, Senhor, da construção?
Empregaram-nas sem contrato
para lerem cartilhas de outra escola:
o trabalho a dar-se por esmola
na migalha da mão aporcalhada.
- Deus Menino, Mistério de Belém,
se os vendilhões andam por aí, ...
se já entram no templo por escárnio, ...
o chicote em cima deles
sem dó nem compaixão
em defesa do Natal!
Noite de Natal, 2002
Foi longa e triste a noite de Natal,
sem estrelas no céu para brilhar,
sem a mesa do pão, sem o luar
sem menino Jesus, só um curral,
com farturas, com whisky, com cristal,
com festança de ouro por manjar,
com incenso e mirra a perfumar
a luxúria de farta bacanal;
sem o fogo no sangue do Inverno,
sem bandeiras em ramo de oliveira,
sem as palhas de humano amor fraterno,
com salário de nadas na carteira,
com mil guerras aqui, ... Eis o inferno
que se canta Natal de outra maneira!
Coimbra, 03.01.05
Fui à rua e procurei
no rio da levada
gente, aquele rei
que o ceptro servia
à mesa da consoada ...
Nada vi do que queria.
Procurei, para o Natal,
um Menino de lei,
um burrinho natural,
uma vaquinha apaixonada,
e um coro de anjos bons, ...
Gloria in excelsis Deo em Belém!
Por aqui, ... nada!
Fui à rua da levada gente
a buscar esse Natal
da paz aos homens, ali,
no mistério da humana condição:
uma Senhora Mãe da carne infante,
um pai adoptivo em silêncio de pé.
Chegou-me a notícia dos anjos:
talvez há dois mil anos em Belém.
Fui à rua e procurei.
Encontrei-me no Natal
da humana Gente
contra a corrente levada.
Fui à rua dentro de mim,
que em mim corria uma razão.
Vasculhei dentro de mim
a procurar o presépio,
que eu queria saber
o que é isso de Salvação.
Ser ou não, ... eis a questão
que, nos termos da razão,
só por Deus é resolvida.
Infinito é o poder
posto em mãos para fazer
um peito que anime a vida.
Ser em sim a mão de Deus
pra criar e dar aos seus,
com engenho a fazer arte,
é ter alma, ser do mundo,
mergulhar ao mais profundo
do infinito em qualquer parte.
Ser aqui obra em serviço,
mão na mão de um compromisso, ...
é com Deus ser criador.
Deus sem homens é conceito;
Homem é tudo o que é feito:
fruto bom que sai da flor.
Ser por Deus a mão capaz
de fazer um mundo em paz,
pôr nas mãos armas de amor,
é trazer no coração
cada homem como irmão;
é ser sangue de uma cor.
Ser aqui a obra de arte,
como quem parte e reparte,
é nas mãos erguer o altar
onde o pão em pequeninos
seja a oferta de Meninos
que o Natal vão festejar.
Natal?
Houve só um, afinal!
Assim mesmo,
Tal e qual!
Em cada ano que passa
Esse dia é uma negaça.
Esse dia é Carnaval!
Lourenço Marques 1973
Depois de muitos anos de escrita, o lápis, a caneta, a máquina de escrever...
Agora o Blog.
Os meus livros estão semeados por aí. No entanto, aqui deixarei alguns frutos, sempre que o tempo assim mo permitir.
Alguém escreveu algo sobre mim em:
http://ansiaonanet.no.sapo.pt/filipesantos/index.html
Para os interessados, as minhas obras são:
- Tons Que Trago em Mim - Poemas (edição esgotada)
- Hoje, Ainda É Tarde - Poemas
- Eu Professor Me Penso
- Épica Serrana em um só Canto
- Manhã de Tempo Incerto.
- 2004 Ditados Populares em Temas
- Natal em Crise
DISTRIBUIÇÃO:
Casal das Sousas 3240 ANSIÃO
Tels. 236677132; 239404312; 93.9417502